Escrito por: Alex Torrealba
AME o financiamento coletivo no Brasil
O mês de março de 2017 foi especial para o crowdfunding no Brasil. Foi nesse mês que ocorreu a maior arrecadação de todos os tempos no financiamento coletivo do país

O mês de março de 2017 foi especial para o crowdfunding no Brasil. Foi nesse mês que ocorreu a maior arrecadação de todos os tempos no financiamento coletivo do país: a campanha “Cura Spinraza – Ame Joaquim” alcançou marcas incríveis, tais como:

  • Maior arrecadação em valores absolutos (R$ 1.420.170,00)
  • Maior quantidade de doadores (24.233 doadores)
  • Maior arrecadação em uma semana (R$ 1.124.549,00)

Se fossem considerados os valores arrecadados direto na conta bancária da família, esse número seria ainda maior! Foi um sucesso estrondoso e fora da curva da realidade do crowdfunding no Brasil. É difícil encontrar pessoas que não tenham sido impactadas pela campanha durante o mês de março.

Esse post não irá contar a história do Joaquim. Vamos analisar a campanha para ver o que podemos aprender com esse fenômeno. E, assim, buscar insights e dicas para que você possa repeti-las nas suas próprias campanhas 🙂

A importância do envolvimento com a comunidade

A força da campanha foi tão forte que trouxe a atenção para essa doença, pouco conhecida pelas pessoas. A AME (Atrofia Muscular Espinhal) atinge muitas crianças no Brasil e, no caso do Joaquim, era do tipo 1, muito forte. Apenas o medicamento Spinraza, ainda não legalizado no Brasil, tem efetividade contra a doença. Mas por ser um tratamento caro, juntar o dinheiro necessário sempre foi um problema para as famílias.


Com a criação da vaquinha e o seu respectivo sucesso, a campanha do Joaquim causou um dos maiores benefícios para as famílias que estavam sem saber para onde recorrer: a esperança de que era possível recorrer ao financiamento coletivo.

Até a data de 18/04, foram contabilizadas 40 campanhas relacionadas à doença. A grande maioria criada após o sucesso da campanha do Joaquim.

Foram 32 campanhas que conseguiram arrecadar algum valor, sendo que dessas, 4 arrecadaram mais de R$ 100.000,00, como você pode ver na imagem acima. A doença AME recebeu destaque da mídia e muitas outras famílias se sentiram motivadas a tentar buscar o financiamento da multidão. E, felizmente, diversas conseguiram arrecadar um valor bem considerável: A corrente do bem que se iniciou com o Joaquim, conseguiu arrecadar mais de um milhão de reais para outras campanhas relacionadas à doença.

O aprendizado com isso é que se a sua campanha for para arrecadar fundos para alguma doença ou causa específica, procure se envolver com a comunidade de pessoas ou famílias que estão passando pela mesma situação. O apoio mútuo entre todos irá fortalecer a divulgação e a arrecadação, trazendo mais visibilidade para todos. Vale a pena investir um tempo para planejar essa organização.

A importância de envolver seus amigos e familiares

Muitas pessoas criam suas vaquinhas com o sonho de que magicamente todos irão encontrá-la e efetuar uma doação. A realidade, infelizmente, é bem mais difícil.

Por isso mesmo batemos constantemente na mesma tecla: envolva a sua comunidade de amigos e familiares no começo. No caso do Joaquim, o sucesso não foi da noite pro dia. Nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, a família conseguiu arrecadar pouco mais de 18 mil reais. É um valor bem considerável para a maioria de nós, mas insuficiente para a finalidade do caso.

Porém, o boom da campanha só foi possível por causa dessas pessoas próximas. São elas que fazem as primeiras contribuições e dão a credibilidade de que a campanha é verdadeira. Você doaria para uma campanha que nem mesmo os amigos e familiares doaram? Pois é, essa é justamente a lógica.

A família do Joaquim conseguiu a incrível marca de arrecadar 200 mil em uma semana e 1 milhão em outra. É uma marca incrível! Mas, note que foi em algum ponto que isso aconteceu. É possível dividir a campanha no período antes e depois da viralização dela.

O ticket médio (valor que as pessoas doaram, em média) da campanha variou bastante. Podemos ver claramente que o valor era maior quando apenas as pessoas próximas doavam. E que ele caiu bastante quando a campanha viralizou.

O que podemos aprender com isso? As pessoas próximas irão doar valores mais altos do que as pessoas que você não conhece. Isso é fato! Pelo gráfico, podemos ver que o ticket médio das pessoas próximas era de 80 reais, enquanto das pessoas que apenas queriam participar da campanha, após verem a divulgação dela pelas redes sociais, doou em média 50-60 reais. Esse número geralmente é menor, o que torna a campanha do Joaquim um ponto bem fora da curva para ser analisado.

Em resumo: as pessoas próximas dão credibilidade e doam mais para a sua campanha. Serão elas que irão, não apenas ajudar na divulgação, mas também, dar a segurança para que desconhecidos se sintam à vontade para doar.

O envolvimento dos famosos

Nossos estudos com os dados da campanha indicam que o dia em que as coisas começaram a bombar foi em 08 de março. Nesse dia as doações começaram a ser mais consistentes, até que a partir do dia 10 de março elas cresceram de forma exponencial. Olhe o gráfico diário do período da campanha.

Foi a partir do dia 8 e 10 de março que os famosos e influenciadores digitais foram impactados pela campanha e começaram a divulgá-la. E o fato deles divulgarem diretamente na internet facilitou demais o processo das doações, pois as pessoas viam o apelo e já clicavam no link. O Joaquim foi mencionado desde atores como Rodrigo Santoro, passando por Youtubers, cantoras como a Ivete Sangalo e até mesmo políticos, pastores evangélicos e jogadores de futebol. Todos os públicos acabaram sendo atingidos.

E o mais interessante? A família estava preparada para lidar com os famosos. Eles não apenas divulgaram a campanha do Joaquim; eles tinham uma página no Facebook e no Instagram, que constantemente era atualizada com fotos, vídeos e informações sobre a campanha. Isso permitiu que os famosos divulgassem essas informações de forma mais rápida e organizada.

Esse conjunto de fatores colaborou de forma a potencializar a campanha de uma forma incrível! A família do Joaquim entendeu que abrir uma vaquinha online não é apenas colocá-la no ar, mas também saber se comunicar. Foram vídeos, fotos e postagens constantes, que ajudaram a contar a história e sensibilizar as pessoas. E ajudaram muito quando os famosos divulgaram a campanha.

Qual é o aprendizado disso? Não adianta você sair “metralhando” todos os famosos para que eles divulguem a sua campanha. Você precisa estar preparado para contar uma boa história e ter uma boa comunicação em Instagram, Twitter, Facebook e outras redes sociais. Isso trará não apenas credibilidade para sua campanha, mas também facilitará a divulgação por parte deles. E, claro, saiba como abordar os famosos para que eles se sintam dispostos a ajudá-lo.

Formas de divulgação da sua campanha

Um dos erros mais comuns que as pessoas cometem, quando abrem uma vaquinha, é não divulgá-la. Se você fizer isso, a chance de você receber dinheiro é quase zero. Mas também não adianta apenas jogar o link da campanha no seu Facebook. Você precisa trabalhar bem a sua comunicação e seu pedido.

Existem estudos que apontam que uma pessoa precisa ser impactada até 7 vezes antes de tomar a decisão de colaborar em uma campanha, algo similar a um processo de compra de um produto. Ou seja, talvez você precise divulgar a sua campanha pelo menos 7 vezes até conseguir alguma doação. Portanto, se planejar é importante.

Outro erro comum das pessoas é esperar que jornais, televisão e portais de notícias divulguem a sua campanha, como se isso fosse decisivo. Acredite, esse tipo de mídia raramente reverte em doações. E o motivo é bem simples: raramente nessas mídias há um link para que você clique e tome a decisão no impulso.

Vamos analisar alguns números parciais sobre as fontes de tráfego (de onde vieram as visitas) da campanha do Joaquim:

Existem algumas conclusões bem interessantes aí e que podem te ajudar muito na sua campanha:

  • No caso do Joaquim, a maior parte da comunicação se concentrou no Instagram, com fotos e vídeos contando a história de uma forma tocante. Em todas as postagens, havia o link para ser clicado e que já levavam para a página da vaquinha. O Instagram é pouco utilizado pela maioria das pessoas, mas em casos como o do Joaquim, é uma ferramenta poderosíssima para sensibilizar. Corresponde a praticamente o triplo das demais.
  • Em segundo lugar, obviamente, o Facebook. A principal ferramenta de rede social facilita bastante a sua vida para viralizar uma campanha. Por isso mesmo, criar uma página para a campanha, abusar de artes e vídeos para divulgar a comunicação, criar eventos para lembrar as pessoas, investir em posts patrocinados… tudo isso vai ajudar muito na hora de tornar a sua vaquinha reconhecida e apta a receber doações. O Facebook é obrigatório para quem quer fazer uma campanha dar certo. E não esqueça de envolver seus contatos próximos para que eles também compartilhem.
  • O acesso direto acontece quando uma pessoa abre o navegador e digita “www.” e o endereço da campanha.Ter um nome fácil de lembrar é uma forma muito poderosa de divulgação. Talvez valha a pena você inclusive investir em um domínio próprio na internet, como a própria família do Joaquim fez: www.amejoaquim.com.br . Hoje a página centraliza diversos casos da AME.
  • Ter um nome de campanha fácil de lembrar também ajuda a receber visitas do Google. Quantas pessoas acessam a internet simplesmente acessando o Google e digitando, por exemplo, “Vaquinha do Joaquim”? Esse número de 48 mil visitas demonstra como pensar nisso é importante.
  • E o Whatsapp? Infelizmente as ferramentas de análise de visitas não indicam quais visitas vieram do Whatsapp. Mas sabemos, por outras vaquinhas de sucesso, que o Whatsapp é uma ferramenta poderosíssima para sensibilizar as pessoas. Afinal, é uma rede social que permite que você torne a disseminação pessoal. Investir em uma comunicação bonita ou até mesmo um vídeo, pode ajudar a sensibilizar a campanha. A campanha solidária de maior sucesso no ano passado, “Ajude a Gigi”, recebe visitas até hoje devido ao vídeo estar sendo repassado no Whastapp até os dias de hoje.
  • E o Twitter? A ferramenta do Twitter é muito interessante de ser utilizada, mas a maioria das pessoas acaba por deixá-la de lado. O grande problema dela é que é uma rede social em tempo real, o que reduz bastante sua efetividade. Mas se você planejar bem, e até mesmo investir em tweets patrocinados, você pode apostar na ferramenta para divulgar a campanha em horários nobres, como durante jogos de futebol, novelas, prêmios ou programas de televisão como BBB ou MasterChef. Você precisará investir e planejar mais, porém pode ser que o retorno seja interessante.
  • E o resultado da mídia, ali embaixo? Olhem como as notícias de portais, até mesmo os mais conhecidos, renderam muito pouco. Não vale muito investir tempo tentando alcançar jornalistas para esse tipo de matéria. Foque mais nas redes sociais e deixe a mídia acontecer ao natural.

Qual o melhor horário para divulgar a sua campanha?

Muitas vezes, para divulgar com sucesso a sua campanha em redes sociais você precisará ficar atento ao horário. Sim, isso importa mesmo! É importante lembrar que não adianta apenas trazer visitas, é preciso trazer pessoas dispostas a doar.

É difícil analisar a campanha do Joaquim com relação aos dias da semana, pois houve uma concentração de doações durante 3 ou 4 dias, porém os horários demonstram algumas conclusões bem legais.

Para essa análise, consideramos os seguintes horários:

  • Manhã: das 7 às 12 horas
  • Almoço: das 12 às 14 horas
  • Tarde: das 14 às 18 horas
  • Noite: das 18 às meia noite
  • Madrugada: da meia noite às 7 horas

Podemos ver uma concentração muito grande de doações realizadas no período da noite. A conclusão é óbvia: as pessoas já estão em casa, se sentem mais seguras a efetuar uma doação fora do horário comercial, tem mais tempo para investir na leitura do caso, enfim.

Ou seja, fica evidente que, se você quer atingir em cheio o seu público, foque mesmo nos períodos da tarde, noite e madrugada. Mas especialmente à noite.

E qual é o período certo para encerrar a campanha?

É difícil saber exatamente quando encerrar uma campanha de sucesso, pois mesmo passado o boom da divulgação, ainda haverá pessoas dispostas a colaborar. A campanha do Joaquim foi encerrada no dia 18 de março, tendo ainda recebido doações nesse dia. A família optou por encerrar pois havia atingido a meta pretendida, somando a campanha no site do Vakinha e também na sua própria conta bancária.

Porém, se analisarmos uma semana para frente, considerando o período de 19 a 25 de março, poderemos ver a quantidade de visitas únicas que a campanha recebeu no período.

No total, foram 18.215 pessoas que visitaram a campanha no período após o encerramento da mesma. Se considerarmos a informação de que, em média, cada usuário representava 3,45 reais em doações, podemos considerar que a campanha ainda poderia ter arrecadado quase 63 mil reais extras, mesmo sem precisar focar na divulgação.

Nossa equipe de atendimento recebeu inúmeros pedidos de reabertura da campanha, por parte de usuários dispostos a participar da corrente do bem, mas não poderíamos fazer isso sem a expressa autorização da família.

Porém, fica o aprendizado: em campanhas de sucesso, como a do Joaquim, às vezes pode ser interessante manter a campanha aberta para absorver as doações das pessoas dispostas a colaborar. E, se for do desejo da família de não ficar com esse dinheiro, o valor poderia ser destinado a outra campanha similar, por exemplo.

E o que fazer depois?

Uma das coisas que a maioria das pessoas esquece, ao finalizar a sua campanha de sucesso, é o que fazer depois. Nós sugerimos sempre o seguinte: foque no relacionamento com seus doadores.

Cada doador é uma pessoa que se comoveu com a sua história e ficará muito grata em receber um agradecimento seu. E também uma atualização da situação da família ou do caso. Com isso, você criará um relacionamento forte com essas pessoas, o que permitirá futuramente que em novas campanhas você já comece com um público ainda maior!

A campanha do Joaquim, por exemplo, já iniciará uma nova campanha de financiamento coletivo com mais de 24 mil pessoas dispostas a colaborar. Imagine a grandeza desse número e como as chances de sucesso serão gigantes.

 

E aí? Gostou dessa super análise? Conseguiu aprender bastante? Então te motiva e abre logo a sua vaquinha conosco. Pode contar com a nossa equipe para te fornecer a melhor ferramenta para que você possa arrecadar dinheiro e mobilizar as pessoas em favor da sua causa. Abra a sua vaquinha hoje mesmo!

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