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Vakinha Literária

ID: 125903
Confira trechos dos livros "Mesmo sendo só um pedaço de vida profunda", de Camila Alexandrini e "Poema Escuro", de Tiago Martins de Morais. "acocorada em frente à privada tento esfregar, sem que a merda entre por debaixo das unhas, o v ver tudo
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Vaquinha criada em: 28/02/2017

Confira trechos dos livros "Mesmo sendo só um pedaço de vida profunda", de Camila Alexandrini e "Poema Escuro", de Tiago Martins de Morais. 

"acocorada em frente à privada tento esfregar, sem que a merda entre por debaixo das unhas, o vaso de porcelana. doem os joelhos, as canelas, a ponta dos dedos do pé. o cheiro de cloro entra pelas narinas; doem também os dedos da mão, enquanto olho para as unhas vermelhas mergulhadas naquela água. até acho excitante aquela posição, de cócoras, sinto um pequeno e breve gozo ali. sei lá, às vezes sinto e gosto... claro, não é isso que me faz lavar a merda, mas tenho de encontrar prazer nos afazeres diários. nada assim acontece lavando a louça, os vidros, o chão, nem sinto mais meu sexo naquilo em que deveria sentir. na feira, no supermercado,  no provador talvez houvesse a chance de senti-lo, mas pouco é o tempo que me sobra. tem acontecido algumas coisas estranhas comigo, acordo de sobressalto durante a madrugada, e a mesma vontade, aquela que já não sei mais se é sensação ou sonho, o bico dos seios saltam e um arrepio forte sobe pela nuca. volto a dormir. amanhã haverá outras privadas. e, antes, isso me ajudava a escapar quando a solidão era forte, quando a vida supria as necessidades e sentimentos de uma mulher. acocorada nasci mulher, enrolada pelo cordão umbilical, forçada àquela que seria minha posição de todos os dias. de cócoras, impondo meu passo torto, minha vida sem perfume, minhas fantasias e delírios determinados pela concentração de cloro no ralo, no azulejo, no vinco."

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Poema que Arde [trecho]

Quero amigos que queiram uivar como lobos

Sentir pelos crescendo nas costas

Dentes rasgando as gengivas

Quero quebrar mais lápis

Quero me deitar nu no chão da avenida e deixar que todos pintem o meu corpo,

   que escrevam na minha pele o que não conseguem dizer nesse teatro tosco

   que não aguenta versos fortes.

Quero atear fogo no bom comportamento

Quero a vida inteira

A vida inteira

E não esse contentamento que cheira a conformismo blasé.

Satisfeito?

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