Há 2 meses recebi uma das melhores notícias depois de tanto tempo: a de que eu poderia finalmente visitar minha família, que não vejo há mais de 5 anos. Posso finalmente ir para casa e passar o Natal com eles. Algo que parece simples, mas fui impedida todos esses anos. Minha família já compreendeu o tempo que passei no Brasil e acreditam que foi necessário, mas eles me querem de volta em casa e por isso, recusam a comprar minha passagem porque não querem que eu retorne ao Brasil novamente. Por isso o que peço é uma ajuda para comprar a passagem de volta. Ir para casa é importante, especialmente depois de tanto tempo, mas a vida e o trabalho que fiz aqui no Brasil, não podem terminar, porque entendo que está só começando, tenho muito mais a fazer. No momento pretendo ir pra África apenas a passeio, para visitar a família, matar as saudades mas retornar para minha nova vida aqui no Brasil. Se você concorda que eu volte e continue meu trabalho por aqui, peço sua colaboração !
Nduduzo Siba é uma artista sul-africana que estava (ou está) enfrentando um processo de expulsão de nosso país. A campanha em solidariedade à Nduduzo foi lançada no dia 8 de março – dia internacional da mulher - por uma rede composta por artistas, ativistas, professores e estudantes. A campanha busca apoiar a luta de Nduduzo pelo direito de permanecer no Brasil, defendendo a revogação do decreto de expulsão publicado pelo Ministério da Justiça em seu nome e dando visibilidade ao trabalho artístico que vem sendo desenvolvido por ela. A jovem multi-artista, de raízes Zulu, faz parte do elenco da peça “Inútil canto e inútil pranto pelos anjos caídos”, escrita por Plínio Marcos e encenada pela Turma 66 da EAD-USP dirigida por Rogério Tarifa. Nduduzo, enquanto cumpria pena em um processo que foi acusada como "mula" do tráfico de drogas, descobriu seu talento por meio das aulas de canto oferecidas pela musicista, psicanalista e educadora Carmina Juarez na Penitenciária Feminina da Capital. Carmina é orientadora de voz do Coral da USP e, em parceria com a Secretaria da Administração Penitenciária, é responsável pelo projeto “Voz Própria” que consiste no trabalho com a arte do canto como forma de terapia, de existência. Em julho de 2018, o Ministério da Justiça negou o último recurso administrativo de Nduduzo sem se manifestar sobre as provas juntadas, como os inúmeros trabalhos que a artista está envolvida e a obtenção do indulto, e defendeu a sua "retirada compulsória do país" com a impossibilidade de retornar por mais de 10 anos. A vitória de Nduduzo contra a expulsão agora dependia de uma decisão na Justiça Federal em ação movida pela Defensoria Pública da União para revogar o referido decreto com base nos direitos humanos previstos na nova lei de migração e no artigo 54 que se refere à ressocialização e a análise da gravidade do delito como pré-requisito para a expulsão. No contexto de uma dívida histórica com a diáspora africana no Brasil, a justiça tem em mãos a possibilidade de reconhecer Nduduzo como sujeito de direitos como prevê a nova lei de migração. Como a própria Nduduzo diz a campanha vai além de sua luta pela permanência no Brasil: “A campanha é sobre mostrar que existe um caminho, que eu tenho feito muitas coisas transformadoras fora do sistema prisional. O encarceramento não é um recurso. Mesmo porque o que se vê são mulheres saindo da prisão e não encontrando na comunidade alguém que as receba. E eu estou tendo. Estou querendo que essas mulheres com quem convivi, tenham voz”. Desde 2017, Nduduzo tem realizado apresentações artístico-culturais em espaços diversos e também participações em shows de outros artistas em São Paulo. Atualmente, junto com uma banda de 4 músicos (guitarra, bateria, baixo e teclado), montou um show solo com canções que contam um pouco de sua história e fazem parte de sua trajetória.
A cantora conseguiu o direito de voltar para a África do Sul. Esta vakainha é para comprar a passagem de volta de Nduduzo para o Brasil e garantir que sua carreira como artista no país tenha continuidade.