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Ex presidiário fazendo PhD na Alemanha

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Ex presidiário fazendo PhD na Alemanha
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Vaquinha criada em: 23/06/2019

Aqui vai uma história agridoce, triste e boa ao mesmo tempo.

Em primeiro lugar, eu odeio esse governo.

Em segundo lugar, PhD é doutorado, nem mais e nem menos.

Eu vou contar uma história que ninguém sabe por completo. Alguns sabem que já fui preso, poucos sabem os detalhes, uma única pessoa sabe de tudo. Eu sou de Tangará-RN. Decidi fazer uma merda e fiz, assaltei uma farmácia em 2007 em Natal-RN. Fui preso e passei 34 dias. Voltei pra minha cidade e em 2009 um amigo me chamou para estudar e fazer um concurso do IBGE e trabalhar no Censo de 2010. Nessa época um outro amigo me disse que eu iria ser preso novamente e morrer por causa dessas coisas. Fiz o concurso e passei, trabalhei no IBGE. Resolvi fazer o Enem, fiz e consegui uma bolsa de 50% pelo Prouni e fui estudar Psicologia na UNP em Natal. Consegui o Fies para os outros 50%, foi o melhor período da minha vida depois de tudo que aconteceu. Fui criticado por estar estudando numa faculdade particular. Lá tive a ajuda de muitas professoras e professores. Lá melhorei minha redação, autoestima e descobri que a maioria da pessoas estão erradas sobre mim. Não vou voltar pra cadeia e nem vou ser morto fora dela. Foi lá que vi pesquisa acadêmica pela primeira vez e fui incentivado a fazer mestrado, me disseram que se quisesse fazer mestrado eu deveria entrar em grupo de pesquisa e isso ajudaria muito. Outro amigo bateu no meu ombro e disse “você entrou em psicologia numa particular, quero ver você entrar num mestrado numa ‘federal’”, em tom irônico. Eu sai da graduação na particular e fui estudar na UFPB e procurar pesquisa. Em 2016 me graduei em psicologia pela UFPB. Lá(aqui) tive ajuda de professoras e professores. Um outro amigo me disse que eu deveria procurar trabalho e que mestrado é muito complicado pra mim. Fiz a prova a primeira vez e não passei. Daí tive ajuda novamente, um amigo me passou ótimos resumos, mais gente me passou mais material, o orientador ajudou também. Na segunda tentativa eu passei. E em março desse ano eu consegui chorar depois defender um mestrado. E durante a graduação e o mestrado nasceu uma vontade estudar fora, na Europa, especificamente na Alemanha. Amigos me disseram que eu deveria fazer aqui no Brasil e não lá. E eu fico pensando, independente dos meus motivos, a vida é minha, por que eu não posso decidir onde ficar? Esse tempo todo e ainda sou visto como uma merda, um bandido, uma pessoa indesejável...Tentei a bolsa pelo CNPQ e não deu certo. Alguns amigos quando souberam do que eu queria me perguntaram: e qual o plano “B”? A minha resposta está aqui. Meu plano B é tentar até morrer. Estou na minha melhor fase profissional, mesmo desempregado. Eu sai da merda, sou o primeiro e único da família que conseguiu uma graduação. E ainda fiz mestrado, numa “federal” (eu odeio essa valorização estúpida). E mesmo estando à beira de uma depressão, por me sentir rejeitado, eu sei, racionalmente, que possível. E mesmo não sentindo esperança, eu sei que porra pode mudar. Olha pra mim, um negro, ex presidiário, com graduação e mestrado. Olha pra mim e me diz que eu não posso e vou lhe mostrar que quem decide a porra da minha vida sou eu. Mesmo me mate no meio do caminho, eu ainda vou tentar. Não está sendo fácil ser eu, nunca foi. To passando por uma barra pesada. Mas tem gente que acredita em mim e uma professora da universidade de Frankfurt acredita. Aceitou me orientar no doutorado (que eles chamam de PhD). Me deu uma carta de aceite, mesmo o meu inglês não sendo bom (eu entendo bem, leio bem e até falo um pouco) e não sabendo alemão. Conversamos pelo Skype e ela me ajudou no projeto. Essa vaquinha é para conseguir dinheiro e pagar passagem e despesas dos primeiros meses e depois tento continuar trabalhando e estudando. Lá é muito caro, Frankfurt. E eu estou aqui sem dinheiro nem pra pagar o aluguel do próximo mês e com um gato pra criar. Eu me sinto sozinho o tempo todo, eu não to bem. Esse é o melhor momento da vida e o pior. Não encontrei na psicologia um termo pra definir como me sinto, o que achei vem da culinária, agridoce. Me sinto contente pelo que consegui e quero morrer.

 

Link da carta de aceitação: https://drive.google.com/open?id=1vXPqe4DHEx1TUDK0g-mNwqqyZ67yQrVL

 

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