
Depois de vencer o Prêmio Braskem de Teatro na categoria revelação, Letícia Bianchi se prepara para montar seu segundo espetáculo: Memórias do Mar Aberto: Medeia conta a sua história. A peça é uma adaptação do clássico grego Medeia escrita pela dramaturga brasileira Consuelo de Castro. A montagem faz parte da fase final da formação de Letícia Bianchi, estudante de direção teatral da ETUFBA, com orientação de João Sanches.
Esta campanha de financiamento coletivo busca arrecadar recursos para cobrir os custos da montagem. A peça estreia em agosto de 2018 no Teatro Martim Gonçalves, em Salvador, e conta com cenário e figurinos de Guilherme Hunder e Thiago Romero. No elenco, quem interpreta a personagem principal é a atriz Vivianne Laert. Completam o grupo Isadora Werneck, Genário Neto, Luiz Antônio Sena Jr., Carol Alves e Antônio Marcelo.
Na concepção de Bianchi, o texto atualiza a força feminina representada pela personagem. O espetáculo pretende manter o não conformismo dela em relação à traição sofrida por Jasão, mas aprofunda as suas motivações e transforma Medeia numa figura política, na medida em que a revolução – e não somente a vingança amorosa – está no centro do enredo.
Medeia é uma personagem ícone na história do teatro e é constantemente representada apenas sob o viés da força feminina levada a extremos. Nos estudos sobre teatro, Eurípedes, autor do texto original, é considerado um defensor do feminismo por dar voz à mulher de sua época. Todavia, a montagem de Memórias do Mar Aberto busca refletir sobre o lugar que o autor grego coloca a voz da mulher.
Construída pelo olhar masculino, Medeia é a especulação acerca do conceito – ainda tão atual – do ser mulher: não há a autonomia da figura feminina na dramaturgia de Eurípedes, pois ela não é por si nem em si, mas sim uma projeção e uma divagação de conceitos estabelecidos por quem ditava e descrevia a ordem da época – o homem.

Na montagem de Letícia Bianchi, a proposta é unificar olhares femininos na concepção da encenação e da construção de Medeia. O texto de Consuelo, em uma direção feminina, pretende trazer a autenticidade necessária à obra para que Medeia seja representada dentro de um discurso mais amplo e conciso.
O objetivo é reconstruir a subjetividade da personagem principal a partir do olhar feminino para a subjetividade feminina. Por mais que existam inúmeras palavras geniais escritas por homens sobre o sentir e viver feminino, nenhuma delas é tão potente quanto as que partem da vivência de uma mulher.
Além da discussão sobre a construção da dramaturgia de Medeia, a peça Memórias do Mar Aberto busca refletir sobre a desigualdade de gênero. As estatísticas registradas no Brasil apontam para a importância desta reflexão. Apesar de serem maioria da população, a representação feminina na Câmara dos Deputados é de apenas 10,5%. Em média, as mulheres ganham cerca de ¾ do salário dos homens e ocupam menos de 40% dos cargos de chefia, mesmo com uma escolaridade maior.
Quando se olha os números da violência, a questão se torna ainda mais evidente. 3 em cada 5 mulheres jovens já sofreram violência em relacionamentos; mais de 70% dos casos registrados no serviço Ligue 180 ocorrem diária ou semanalmente; metade dos feminicídios são cometidos por membros da família, na maioria dos casos é o próprio parceiro quem mata. Essas questões reforçam a escolha por um teatro que aborde as causas feministas e seja instrumento de reflexões sobre as questões de gênero.
FICHA TÉCNICA
Direção: Letícia Bianchi
Elenco: Vivianne Laert, Isadora Werneck, Genário Neto, Luiz Antônio Sena Jr., Carol Alves e Antônio Marcelo
Produção: Cooxia Coletivo Teatral
Cenário e figurino: Guilherme Hunder e Thiago Romero
Iluminação: Allison de Sá
Trilha Sonora: Luciano Salvador Bahia
Orientação: João Sanches
Assessoria de Imprensa: Marcelo Argôlo