Me chamo Keyla Ferrari Lopes , professora universitária apaixonada por educação especial e LIBRAS, atuo também na educação inclusiva através da arte. Sou mãe de um rapaz de vinte e três anos e um adolescente de quinze, filha caçula de quatro irmãs. Como dizia minha mãe "sou a raspa do tacho".Nunca achei que um dia fosse capaz de expor minha vida pessoal, pois só escrevo artigos acadêmicos , livros infantis ou gravo vídeo aulas sobre temas da minha profissão. Mas para começar minha história, já digo que nasci com uma pequena falha genética no chip, rs, brincadeiras à parte para dizer que as mulheres da minha família, mães e irmãs tiveram câncer de mama, mais de uma vez, e atualmente duas irmãs tratam metástases. A primeira coisa que lembro da minha infância era ver a grande cicatriz e do lado esquerdo da minha mãe e a imagem de uma mulher amargurada e depressiva que se sentia mutilada por ter apenas um seio e um braço maior que o outro. Ela se foi vários anos depois acometida de um segundo câncer e outras complicações ela nem conheceu seu segundo neto. Eu como uma boa caçula sempre achei que eu não teria câncer e que comigo a história seria diferente. Só que não... em 2017 tive meu primeiro cancer de mama , entre as incertezas e o luto da doença eu sofri muito na perda dos cabelos, nos enjoos da quimio, mas resisti , passei minha doença trabalhando resgatei a dança na minha vida e mesmo de peruca,sem cílios nem sobrancelhas vivi uma história de amor, conheci meu atual companheiro. Então só restou uma cicatriz no seio esquerdo e muito aprendizado .
Os cabelos cresceram e voltaram a ser longos e a vida voltou ao normal . Desde então foram muitas terapias, atividade física, alimentação saudável, ressignificação do feminino e até o útero e ovário eu tirei para prevenir recidiva e o câncer já era uma memória distante , afinal se o hormônio feminino causava o câncer eu eliminei com a retirada dos ovários. Não..... meu feminino insistiu em gritar... e meu corpo achou um jeito de produzir estrogênio .E aqui estou com uma recidiva local para minha surpresa, um tumor agressivo bem e não tenho o valor para pagar a cirurgia e agora??A oncologista disse: "Keyla cirurgia imediatamente".. Eu desabei , novamente sem chão ..Sou uma entre tantas outras mulheres que vivem a dor de ter o seu feminino dilacerado pelo câncer de mama e vive a indignidade de pertencer a um sistema de saúde sobrecarregado. Porém, o amor insiste em vencer e a vida sempre surpreende.Eu tenho um grupo de amigos . Coloco então o medo da exposição e o orgulho de lado porque o amor deles é tão grande que me emocionou...Sim eles vão me ajudar a pagar os quarenta e um mil de cirurgia com um médico muito competente.... e eu espero retribuir e dizendo sim a vida..... eu estou de volta... e vou me cuidar mais.... me amar mais.. quero ver meus filhos se formarem, talvez casarem, quero ver o sol brilhando no reflexo da água como purpurina, quero ver o menino adolescente que senta na calçada na rua de minha casa só para acariciar o gato de rua, quero fazer um coral de libras com os meus amigos e claro um bailinho à moda antiga no meu aniversário de cinquenta anos, eu quero muitas coisas ......
Porque apesar dos momentos de tristeza eu SOU a protagonista desta história e vou consertar este chip.
OBRIGADA amigos irmãos de alma.. O amor de vocês me tirou do luto. Vamos a luta para conseguir pagar esta cirurgia.