
No início de 2018, começamos a avaliar os resultados do tratamento dos pacientes com câncer de bexiga invasivo nos hospitais do ABC Paulista. Realizamos um levantamento na base de dados do DATASUS, e constatamos que não somente naquela região a mortalidade destes pacientes era elevada, como em muitas outras regiões do país. Começamos então a pesquisar através da análise de prontuários dos principais hospitais públicos da região, e detectamos que doz últimos 59 pacientes operados, 20 morreram antes de receber alta do hospital. A cirurgia para remoção da bexiga é uma cirurgia de alta complexidade e elevados índices de complicação em qualquer lugar do mundo. Ainda assim, 33% de mortalidade é um número muito superior aos 5% obtidos nos centros de excelência mundiais.
Estudamos os prontuários destes pacientes para tentar entender quais eram as principais razões para uma mortalidade tão elevada. Além disto o caráter descentralizado dos três municípios tornava a logística um pouco mais complexa.
Iniciamos então o nosso projeto, alinhando com os responsáveis pelos 4 principais hospitais públicos da região do ABC para que encaminhassem todos os pacientes que tivessem o diagnóstico de câncer de bexiga invasivo para o ambulatório central criado na FUABC. Neste ambulatório, estabelecemos algumas rotinas buscando superar os problemas detectados:
1. Parcerias com outras especialides, destacando-se:
oncologia: conseguimos estabelecer parcerias com os oncologistas dos três municípios, estabelecendo através de reuniões e grupos de whatsapp uma padronização de condutas. Tornou-se possível passar a tratar os pacientes com quimioterapia antes de realizar a cirurgia, reduzindo o tamanho dos tumores, em geral avançados quando os pacientes chegam, e permitindo melhorar os resultados e índices de cura.
pneumologia: Sendo o tabagismo a principal causa do câncer de bexiga, através de parceria com a equipe de penumologia da FMABC passamos a encaminhar nossos pacientes para ambulatório de cessação de tabagismo.
enfermagem: A equipe de enfermagem e principalmente o ambulatório de estomatoterapia do AME Barradas passaram a nos auxiliar a orientar os pacientes.
nutrição: passamos a fornecer orientação nutricional para otimizar a recuperação após a cirurgia.
Estabelecimento de um algoritmo identificando os pacientes com maior risco de morrer baseado na série histórica local e na literatura científica para então definir a melhor forma de derivação urinária após a cirurgia (ex.: escore nutricional, escore de comorbidades, etc.).
Felizmente, depois de 1 ano do projeto CABEM (Câncer de Bexiga Músculo Invasivo), conseguimos reverter este cenário. Hoje estes índices de mortalidade já estão abaixo de 3%, e conseguimos integrar melhores práticas disponíveis e integração entre diversas especialidades para otimizar o tratamento destes pacientes. Hoje podemos dizer que CABEM mais vidas.