
Mariela sempre sonhou em ser médica. Na Venezuela, depois de anos de estudo e sacrifício, conquistou o diploma e trabalhou cuidando da saúde de muita gente. A profissão lhe dava orgulho, mas a crise em seu país tirou quase tudo: o salário não dava mais para comprar comida e a violência aumentava. Foi então que ela tomou a decisão mais difícil: atravessar a fronteira com os três filhos e vir para o Brasil em busca de uma vida melhor.
Ao chegar aqui, Mariela descobriu que não poderia simplesmente exercer a medicina. Para voltar a trabalhar na sua área, precisa passar pelo Revalida, o exame nacional que valida o diploma de médicos formados fora do Brasil.
Esse processo tem duas etapas principais.Na primeira, Mariela teria que pagar uma taxa de cerca de R$ 410,00 para fazer a prova escrita — com questões objetivas e discursivas sobre todas as áreas da medicina. Se fosse aprovada, viria a segunda etapa: a prova prática de habilidades clínicas, onde o médico precisa mostrar, em estações simuladas, como atender pacientes, realizar diagnósticos e procedimentos. Essa etapa custa em torno de R$ 4.100,00.
Além disso, há os custos extras: apostilar documentos, fazer traduções, viajar até a cidade onde a prova é aplicada, pagar hospedagem e alimentação para os dias do exame. Quando Mariela colocou tudo no papel, percebeu que o valor total ficava muito além do que ela, sozinha, conseguia juntar.
Hoje, ela mora com os filhos em um barraco de madeira simples. A água da chuva escorre pelas frestas, mas o espaço é o único que pôde conquistar. Para sustentar a família, trabalha como faxineira. O salário é pouco, e quase todo vai para aluguel, comida e contas básicas.
Ela sonha com o dia em que poderá pagar o Revalida, vestir o jaleco novamente e dizer aos filhos: “Agora a mamãe é médica de novo”. Para eles, Mariela já é um exemplo de coragem e perseverança. E para o Brasil, ela pode ser uma profissional que vai salvar muitas vidas — se tiver a oportunidade de revalidar seu diploma.