
Sou Ester. Tenho 46 anos. Sempre trabalhando, me vi perdendo o folego. Descobri um problema nos pulmões e em uma das válvulas do coração. Durante o tratamento tive várias crises que vim a descobrir que eram do fígado e em decorrência dessas circunstâncias uma crise renal. Com o tempo e medicamentos consegui conviver com meus “vizinhos”. Levei tudo com bom humor mas não consegui mais emprego. Comecei a trabalhar por conta própria na mesma época que meu pai faleceu de câncer no fígado. Formalizei uma papelaria e ajudei uma tia minha. Não deu certo. Voltei pra casa e continuei. Com o falecimento de minha avó veio as disputas em família pelo imóvel e nos mudamos para perto da familia de mamãe. Tentei trabalhar com minimercado. Veio a pandemia. Em casa, resolvi atender a familia e comecei a fazer bolos e brigadeiros. Vendia pelo Ifood. Mas o câncer vitimou três tios meus e uma tia-avó suspeita de Covid. Elas me ajudavam até me erguer. Sempre sorrindo tentei levar a dor da saudade com a alegria que eles nos deram em vida. Tivemos que mudar de casa. Ficamos sem alimentos. Estou sem remédios. Estamos pela doação de todos. Aceito encomendas que não vem. Quero voltar a trabalhar e não ver minha mãe chorar escondido. Vou comprar o que preciso e trazer alegrias a elas e todos que se foram, que sei, olham por nós.