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POR QUE EU PAREI COM A LIVRARIA QUINTAL Lá vem textão. Sim, eu sei. É difícil ler textão, né? Mas eu vou me aventurar nele, sim. Primeiro eu quero agradecer todo mundo que me apoiou, que comprou meus livros e que me incentivou nessa a ver tudo
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Vaquinha criada em: 07/03/2018

POR QUE EU PAREI COM A LIVRARIA QUINTAL

Lá vem textão. Sim, eu sei. É difícil ler textão, né? Mas eu vou me aventurar nele, sim.

Primeiro eu quero agradecer todo mundo que me apoiou, que comprou meus livros e que me incentivou nessa aventura dantesca que foi ter um negócio próprio. Segundo que vou contar um pouco do mercado editorial do lado de cá da ponta dele (já que eu já passei por todo o ciclo do livro, desde produtora de conteúdo, gerência editorial, vendedora de livraria, empresária, cliente).

A primeira coisa é que é MUITO difícil ser empreendedor no Brasil. Passar de MEI (pagando apenas R$ 50/mês) para ME (pagando 2,89% em cima de cada nota fiscal) é tensíssimo. Além desse valor a pagar por mês, ainda tem todo o trâmite de modificação da empresa, contador, certificação digital, Secretaria de Finanças, Posto Fiscal, INSS etc.

Depois que quando você passa a ser ME, o crédito para você aumenta (isso significa que você pode pegar empréstimo a juros baixos e só - isso se o BNDES liberar, no ano que precisei ele não tinha liberado). Dá pra comprovar renda mais facilmente (para fazer um financiamento de imóvel, por exemplo). Em compensação você perde algumas regalias do MEI, como por exemplo licença-maternidade e seguro-desemprego. Enfim, é você por conta própria.

Segundo que há a questão do frete. O frete é um imbróglio no Brasil. Há os Correios, que são a maior empresa de fretes do Brasil, eles cobram R$ 160/mês mesmo se você não postar nada naquele mês. Eles te dão todo o suporte: tabelas de fretes para você calcular o frete no seu site, sistema online de controle, vão retirar os pacotes na empresa enfim. Nada a reclamar dos Correios, a não ser... as entregas. É muito verdade que eles têm dificuldades para entregar em certas regiões e que alguns centros de distribuição são controlados por facções criminosas. A questão com a livraria é que: se os Correios não entregam a encomenda, eles não devolvem o valor da mercadoria, só devolvem o do frete (a não ser que você faça um seguro da mercadoria, mas isso custa 10% do valor da mercadoria - e se eu aumentasse o valor do livro em 10% eu perdia mercado). Então enviar pelos Correios era sempre muito tenso - porque podia perder o valor dos livros, que eu já tinha pagado para a editora/distribuidora.

Daí tem as margens de lucro. A concorrência livreira é acirrada, cada centavo de desconto conta - e, para o cliente, isso é uma maravilha. Mas achata o lucro. Uma empresa saudável tem em média de 15% a 30% em cima do custo do produtos. No mercado editorial, esse valor chega ao máximo de 17%. A Livraria Quintal não conseguia trabalhar com margens superiores a 10%; se aumentasse para 11%, era queda de vendas na certa - na Black Friday, trabalhei com 5%, pra vocês terem uma ideia. Portanto: muito trabalho para retorno pequeno.

Além do lucro pequeno, há também as perdas. Cliente devolve livro usado (em vez do novo que você enviou), cliente desiste da compra depois que eu paguei na editora, comprei o livro errado (edição, capa, tamanho) na editora. No final dos tempos, eu estava com um estoque gigantesco, de mais de R$ 4 mil encalhados na Livraria... :/

Falando em concorrência, vamos a elas: as grandes redes de livrarias (tanto nacionais quanto multi) não brincam em serviço. Elas dão dumping no mercado descaradamente (vendendo abaixo do que pagam - com comprovação de notas fiscais de fornecedores e preços aplicados no site). Tudo isso tenta ser barrado pela legislação, mas eles a burlam sem vergonha. Há, por exemplo, promoções que começam na sexta-feira e terminam no domingo, impedindo a justiça de agir. Para o consumidor, maravilha, tudo baratinho. Para o pequeno empresário - como eu - uma dor de cabeça sem tamanho. E, pelo que entendi, esse é o objetivo delas mesmo: quebrar as pequenas para que elas sobrem soberanas no mercado. Há uma lei em trâmite no senado, a Lei do Preço Fixo, que faria que no primeiro ano de lançamento do livro, as livrarias só dessem até 20% de desconto em cima do preço de capa - ruim para o consumidor, bom para o mercado (isso faria as pequenas terem um mínimo de concorrência com as grandes) - mas o projeto está parado no senado desde set/2017, e pelo visto não vai andar porque não tem apoio da população.

Tem também os marketplaces (Mercado Livre, Submarino, Americanas, Estante Virtual, Amazon), que também oferecem a "oportunidade" de a Livraria vender por eles. Eles anunciam seu produto, o cliente compra e você entrega. Eles cobram porcentagem (de 11% a 17%), o que faz o livro ficar mais caro - porque este valor tem que ser repassado aos clientes. Tem livraria dando dumping ali também, mas ali é mais difícil de perceber. A questão com Mercado Livre, Estante Virtual e Amazon é bem às claras - eles cobram porcentagem em cima do produto. Já o Submarino cobra porcentagem em cima do frete também!! O que é um absurdo, já que o valor de frete é ele que oferece para o cliente - nunca sei quanto o cliente vai pagar e, portanto, não consigo embutir esse valor no livro. Perdi dinheiro na Black Friday, por exemplo, por não conseguir calcular esse valor. E pior: eles só me avisaram que iam cobrar % em cima da venda em dezembro. Eu acho que o que eles fazem é ilegal (cobrar porcentagem em cima do frete - porque assim eles ganham o frete em cima do cliente e em cima do colaborador), ainda vou processar esses caras. Que ódio que eu fiquei do Submarino, sério. Além disso, se os Correios não entregam sua mercadoria, se o cliente cancela a venda ANTES de você enviar o livro, o Submarino não devolve o seu dinheiro e ainda cobra a porcentagem como se a venda tivesse sido efetivada. Ódio, ódio, ódio.

Bom, daí veio a crise, o Submarino me dando balão, a Amazon, a Saraiva e a Americanas dando dumping, as redes sociais que cada vez mais exigem pagamento para que suas postagens sejam vistas, o lucro baixo, muito cliente reclamando dos Correios, eu com dívidas até as tampas...

Meu plano era: pagar a quem devia (banco, contador, fisco, fornecedores) e retomar a livraria de onde parei, deixando de cair no conto do Submarino. Mas, analisando o mercado friamente, não tenho certeza se a Livraria se sustenta em meio a tão grandes e desleais concorrentes.

É isso. Agora estou tentando voltar ao mercado editorial como revisora, editora, vendedora, para continuar contribuindo para fazer uma literatura de qualidade no Brasil.

Saibam que tudo o que eu fiz foi pensando no melhor para o cliente - menor preço possível, menor preço de frete possível, atendimento impecável. E, mesmo assim, não deu.

Deem tchau para a Livraria Quintal! Lembrem dela com saudades e amor!

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