
Olá,
Sou Jeovan Belarmino da Silva (Seu Jeovan), assistente em administração, UFCG, lotado na DIVGP-HUAC, tenho sequelas da poliomielite (paralisia infantil) contraída em janeiro de 1969, quando ainda contava 04 (quatro) meses de idade, mas, diga-se de passagem, isso não me impede de ser quem eu sou. Apesar de ser Pessoa com Deficiência-PcD, isso não me define, na verdade, é apenas uma característica física, e tão somente física, fácil de assinalar.
Desde então a vida tem se constituído em desafios diários, primeiro lutar pela vida, quando os prognósticos não eram favoráveis, uma vez isto “superado”, vieram os outros como o fator socioeconômico, o qual influi sempre nos demais fatores, o que não necessariamente seja o óbice que nos retém na caminhada, mas nos traz dificuldades que também precisam ser superadas.
De aí em diante, numa vida praticamente normal, os desafios continuaram em forma de dificuldade de locomoção, pois dependia dos braços alheios para ir daqui para acolá (me refiro à escolinha de fundo de quintal na mesma rua em que residia), depois veio o par de muletas, o que me deu uma sensação jamais experimentada, a da liberdade, pois a escolinha já não me comportava e iria para o colégio, não muito distante, mas a família decidiu que eu teria que ir com o pé no chão, igual a meu irmão mais velho, porque os braços dos outros não era o meio mais digno de locomoção. No entanto, na época, um dos desafios superados silenciosamente, foi o preconceito em duas espécies com o qual me deparava: um eram aquelas pessoas que não sabiam me olhar de outra forma senão com piedade, pois era como eles sabiam olhar, e o outro era mais contundente porque as pessoas já determinavam para mim uma invalidez que eu não queria, e a pergunta que não calava perdurou por muito tempo: “você não é aposentado? Vá no INPS que eles aposentam ligeirinho...”. O bom foi que também sobrevivi a isto.
Neste ínterim, (final de 1978 e o ano de 1979), vieram as cirurgias na tentativa de corrigir músculos e nervos outrora afetado pela poliomielite, portanto sem ir à escola, e aqui abro um espaço para demonstrar a gratidão àqueles que me olharam como uma pessoa que precisava de ajuda, não assistencialista, mas uma ajuda para igual aos outros. No ano seguinte, em 1980, fui pra escola num bairro vizinho, a distância era bem maior, aí me senti vencedor, porque tudo mudou, tudo era maior, inclusive as dores e o cansaço, mas não havia problema nisso porque tudo era sinônimo de redenção. No início desse ano falei à minha família da possibilidade do uso de um aparelho ortopédico (órtese), até porque as cirurgias não tinham alcançado o efeito desejado, mas o uso da órtese me deu o poder que sempre desejei, o de andar com minhas próprias pernas, mesmo que com o apoio de uma bengala. Aqui devo ressaltar que adquirir a primeira órtese com bota ortopédica foi um dos maiores desafios que presenciei, mas esse desafio não era meu, eu era apenas uma criança. Aparelho ortopédico (órtese) com botas ortopédicas era coisa pra rico (como hoje ainda o é) mas a união familiar e a ajuda de outras pessoas tornaram o objetivo numa conquista.
Nos anos seguintes até o presente, tudo tem sido uma sequência evolutiva e positiva, tanto no âmbito específico das necessidades que a minha deficiência me traz, como na vida em si, pois tenho uma vida normal, cheia de altos e baixos, tal qual qualquer pessoa, casei, constituí família (esposa, 03 filhas), trabalho, fui MC de eventos musicais tipo, festivais de música, principalmente os que envolviam bandas marciais, e também de solenidades com presenças de autoridades dos mais variados escalões.
Aqui destaco que com o avanço da idade o poder de deambulação (caminhar) fica mais restrito, além de que estou acima do peso por diversos fatores e dentre eles o sedentarismo, isto implica diretamente na durabilidade e resistência da órtese necessária para me fazer ficar de pé e andar. No mês anterior, aqui no HUAC, quando desembarquei do carro que me traz ao trabalho, minha órtese quebrou me deixando logo apreensivo em dar o próximo passo, e isso falo literalmente, pois sem o apoio da órtese a perna não resiste e não sustenta o caminhar, mas com ajuda cheguei a uma cadeira e pedi ajuda para chegar ao setor onde trabalho (DIVGP) e de uma forma bem profissional não deixei que o incidente afetasse meu dia e meu a fazer.
Hoje estou me locomovendo com muita dificuldade amparado por uma muleta axilar e a minha inseparável bengala, porém como o sobrepeso e o desgaste ósseo causou alguns danos na perna esquerda (perna de apoio). Então agora, para que eu possa andar de forma estabilizada, se faz necessário o uso de dois tipos de órtese: 1) aparelho tutor longo com calha em polipropileno (tipo o qual já vinha usando desde os 11 anos de idade, para sustentação do MID-Membro Inferior Direito) 2) breize articulado em polipropileno (com graduação para conter o recurvato posterior no joelho do MIE-Membro Inferior Esquerdo). O item 1 custa R$ 2.800,00 (dois mil e oitocentos reais) e o item 2 custa R$ 2.180,00 (dois mil, cento e oitenta reais), totalizando o orçamento em R$ 4.980,00 (quatro mil, novecentos e oitenta reais), quantia um pouco acima de minha capacidade orçamentária familiar.
Para adquirir as peças mencionadas acima, conto com a compreensão e a ajuda de todos que se solidarizarem com a causa de uma pessoa que almeja ainda caminhar e continuar a ser quem é: “o simplesmente:” … Seu Jeovan.