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Um pouco de amor para nossas Marias tão violentadas

ID: 59581
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Vakinha Premiada
Vaquinha criada em: 09/06/2016

Nossas Marias tão violentadas

Esse é um texto difícil. Pensei em escrever a história de uma mulher. Depois vi que era sobre a filha dela que eu falava. E depois percebi que era sobre a neta, talvez a bisneta. Todas violentadíssimas por diferentes motivos.

Vamos seguir a ordem cronológica. Ou quase isso. Vamos começar o texto falando que tem uma bebê vindo por aí. Talvez a história, no fundo, seja sobre ela. Mas vamos falar primeiro da nossa primeira Maria, aquela que me trouxe, através de uma amiga, essa história e um pedido de ajuda.

Maria é uma mineira de nascimento. Aos 7 anos foi retirada dos pais e trazida por uma outra família para o Rio. Imagino a pobreza e a desgraça que fazia com que famílias, lá na década de 60, mandassem embora seus filhos, com poucas chances de reencontro. Mas não, não foi uma adoção. Maria foi trazida para trabalhar, aos 7 anos, na casa dessa família em Copacabana. Ela dividia o dia entre trabalho e escola. Mais trabalho do que escola, já que abandonou os estudos no segundo ano do antigo primário. Eu retruco. Digo que 7 anos é criança demais, mas ela me parece conformada dizendo que anos atrás se começava cedo. Não importava a idade. Tinha que aprender a fazer as coisas e da forma certa.

Precoce em todas as etapas da vida, teve o primeiro filho aos 14 anos. Casou aos 18 anos e teve 12 filhos durante a vida. Desses, três com problemas neurológicos graves. Ficou viúva faz um bom tempo. A faxina ela não aguenta mais fazer. Aos 60, com tanto trabalho nas costas, está cansada e tentando a aposentadoria. Hoje, depois de trabalhar com a tal família em Copa até que todos falecessem, trabalha como passadeira numa casa cheia de amor em Laranjeiras e foi aí que essa história virou texto.

Alguns dos 12 filhos já faleceram. Numa época pré-UPP no Morro da Providência, a situação era muito diferente. Quando saía para trabalhar, a filha com mais problemas neurológicos ficava em casa sozinha, não tinha jeito e aí que as coisas ficaram mais difíceis. A filha de Maria foi violentada inúmeras vezes pelos bandidos da comunidade, que entravam na casa quando bem queriam. Foram seis filhos de pais desconhecidos. Quando Maria percebia, a filha já tinha um barrigão e mais um bebê a caminho que Maria tinha que ajudar a cuidar. Nas leis locais não tinha espaço para reclamar. Essa, vejam que tragédia, foi a família que eles conseguiram ter.

A neta mais jovem de Maria é a terceira personagem da nossa história. Aos 17 anos, é ela quem cuida da mãe debilitada, quando não trabalha numa rede de fast-food aqui no Rio. Moram todos sob o mesmo teto num casebre de dois quartos. Só tem uma cama, onde Maria dorme. Os outros nem colchonete tem, dormem num lençol esticado no chão gelado. Só que essa neta de Maria, adivinhem, engravidou. O pai da criança não vai ver a bebê nascer. Aos 19 já está preso por relação com o tráfico de drogas. "A gente dá os conselhos, mas jovem, você sabe, não segue", me diz Maria. A bebê nasce mês que vem e eles não tem nada, absolutamente nada. Conseguimos duas mamadeiras, uma panelinha, quatro pacotes de fraldas e umas roupinhas.

É isso, amigos. Uma Maria violentada pelo desligamento tão precoce da família, pelo trabalho antes da hora, pelos anos de sofrimento, pela quantidade absurda de filhos. Uma segunda Maria violentada por homens que viram ali uma pessoa tão vulnerável, presa fácil. A terceira Maria já nasceu de uma relação de desamor, num lugar de sofrimento e abuso, com valores que não são os nossos. Vem aí a quarta Maria, que chega violentada pela pobreza absoluta, pelo desespero, pela carência máxima. Mas amor cura tudo isso.

Essas pessoas fazem parte das nossas vidas. Passam por nós na rua, nos atendem nos balcões da rede de fast-food. Isso tudo é mais próximo da gente do que imaginamos. E quando ouvi tudo isso lembrei da época em que estagiei no Centro de Testagem Anônima de HIV. Alguns pacientes nos pediam seringas, porque eram usuários de drogas. Num primeiro momento eu não entendia como alguns profissionais davam as seringas e eles explicaram: "Rodrigo, a gente cura uma coisa de cada vez. Aqui eles tratam o HIV, são e continuarão sendo usuários de drogas. Eu prefiro dar a seringa para o paciente que me pede a deixar ele compartilhar na hora em que o vício o consome. Faça a sua parte, não julgue o comportamento". Ficou a lição.

Então, amigos, aos que compartilharem desse pensamento, se puderem ajudar, agradeço. Elas precisam de TUDO. Eu vou fazer uma vakinha, claro, para quem quiser / puder doar dinheiro. A meta é mais baixa do que nos projetos anteriores, mas vai ajudá-las com algum medicamento ou alguma emergência quando a bebê nascer. Quem tem filho sabe que isso a gente não prevê. E roupas, leite, mamadeiras, fraldas, chupeta, brinquedinhos, pomadas, tudo de mais simples que o seu bebê não usa mais, nos serve muito. Carrinho e berço, claro, eles também não tem. Não tem nada. Eu recolho ou dou um jeito de mandar pegar se não for por aqui. O pessoal do Maya Café, aqui em Laranjeiras, se ofereceu para ser um centro de arrecadação. Compartilhem com os amigos que tiveram filhos nesses últimos meses ou ano. Vamos curar com amor. 

Arrecadado
R$ 3.225,00
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Meta
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