Além do retalho: Oficinas de sonhos
O que é um retalho? A resposta mais simples é: um pedaço de tecido. Porém, para quem enxerga além um retalho é muito mais que isso. E foram as crianças de um bairro popular em São Paulo que me ensinaram a enxergar além do retalho, foram aquelas pequeninas mãos que me ensinaram a transformar o retalho em delicadas peças, como bonecas feitas à mão. À primeira vista as bonecas podem parecer todas iguais, mas na verdade cada uma carrega algo especial inerente a cada criança, algumas usam um vestido mais colorido e outras nem tanto, algumas apresentam uma expressão mais ou menos alegre, combinando com o humor de quem as produziu.
O retalho e as peças produzidas a partir do mesmo tem duração maior do que o desenho ou a colagem e outras expressões que as crianças também produzem, talvez essa tenha sido a razão pela qual chamaram a minha atenção, é como se aquelas mãos pequeninas reproduzissem através destas bonecas o desejo de permanecer, de chegar a adolescência e a fase adulta da vida e deixar um legado. Não consegui avaliar o quanto estavam conscientes ou não da situação de vulnerabilidade na qual se encontravam, mas para mim a produção daquelas bonequinhas relacionava-se com a situação vivenciada.
Trouxe uma bonequinha para casa, olho para ela e ela me diz algo que não consigo explicar, olho novamente e sinto uma inquietação, penso naquelas mãos pequeninas e agradeço o fato de terem me ajudado e me ensinado a enxergar além do obvio. Na correria do meu dia a dia recupero a sensibilidade ao ver essa bonequinha feita de retalhos. Espero que outros adultos também possam se sentir tocados por esse relato que também surgiu através daqueles retalhos.
Para conhecer mais sobre o projeto social ao qual me refiro e as oficinas na Vila Terezinha acesse: http://institutopedrohenrique.org/
Breve apresentação do Instituto Pedro Henrique de Direitos Humanos
O Instituto Pedro Henrique de Direitos Humanos iniciou suas atividades na Vila Terezinha em julho de 2016, após uma tragédia envolvendo o adolescente Pedro Henrique Nunes de Morais de 17 anos, vítima da ação letal do estado contra os jovens da periferia. Essa tragédia fez com que seus pais e um grupo de pessoas com diferentes formações se juntassem para desenvolver atividades voltadas aos jovens da comunidade. O fundador do Instituto e assistente social Suzimar Morais reside no território há 37 anos, o que possibilitou a atuação do Instituto com as famílias residentes na comunidade.
Agradecemos as pessoas que contribuiram anteriormente com a nossa vakinha para nos ajudar na reforma do instituto e tendo em vista a crise e a pandemia por conta do novo covid-19 contamos mais uma vez com o auxílio de vocês para ajudar as famílias da Brasilândia que estão passando por dificuldades neste momento.
Vale citar que para realizar suas atividades e funções o Instituto busca respaldo nos príncipios da Declaração Universal de Direitos Humanos e na Constituição Federal de 1988.