Algo me atormentava o juízo naquela noite de terça-feira: esse, definitivamente, não era um texto para ser escrito na primeira pessoa do singular. Por razões óbvias: o motivo desta vaquinha diz muito sobre o nosso sistema de saúde e sua lógica de funcionamento e sobre a realidade de tantas pessoas trans que dele dependem. Não é a toa que esta não é a primeira e, infelizmente, não será a última vaquinha articulada para financiar uma cirurgia que deveria ser um direito assegurado a todo homem trans. De forma gratuita, segura, pelo SUS e dentro de prazos plausíveis. Porque a longa espera leva a uma angústia que, essa sim, pode gerar uma série de transtornos a quem espera sem nenhuma perspectiva e sem nenhuma garantia do Estado.
Não digo que acompanhei todo o processo do Bruno porque ele, sempre que tenta encontrar uma origem para isso tudo, busca na infância as primeiras lembranças de desconformidade com o gênero que lhe era imposto. Mas, posso dizer que fui parte do processo de descoberta da transexualidade já dita, assim, neste termo, como uma possibilidade de vivência do corpo e da sexualidade que até então lhe era desconhecida.
Foi no ENUDS (Encontro Nacional Universitário de Diversidade Sexual) de 2009, em BH, que o descobriram, na verdade. Pois questionaram sua identidade de gênero e ele se deu conta de que aquele questionamento dizia muito e viria a dizer mais ainda sobre a sua vida e sobre as suas vivências.
Em 2010, começa a luta no SUS. Bruno é de uma periferia do Rio de Janeiro, trabalha como autônomo, não tem plano de saúde e pagar pelo tratamento e por todos os exames e procedimentos não entrou nem em cogitação. Esperou pacientemente o laudo do psiquiatra, a liberação do tratamento hormonal e os vários pareceres que o deixavam “apto” para a cirurgia de mastectomia. A liberação para a cirurgia veio somente no ano passado, quatro anos após a sua entrada no Hospital Estadual Pedro Ernesto/UERJ. Essa espera casada com o processo que se deu pós-liberação foi motivo de muita angústia e, em alguns momentos, desespero. Isso de não saber o que vai acontecer e quando dá um nó na cabeça de quem espera com tanto desejo e vontade.
Os exames feitos no ano passado já perderam a validade e foram solicitados outros, mas sem a garantia de que esses também não vão vencer antes da tão sonhada cirurgia. Eles alegam que não tem leito, que não tem médico (porque são poucos os que fazem esse tipo de cirurgia) e que, por isso, não tem previsão da cirurgia de fato sair. Foi essa falta de perspectiva, muito mais do que uma descrença no nosso SUS, que o levou a procurar hospitais e cirurgiões particulares que realizavam a cirurgia. A média de preços varia entre R$ 6500,00 e R$ 7500,00. Na impossibilidade de arcar com os custos e entendendo que este é um problema coletivo, ele optou por criar essa vaquinha online. Qualquer contribuição vale.
Algo me atormentava o juízo naquela noite de terça-feira: esse, definitivamente, não era um texto para ser escrito na primeira pessoa do singular. Por razões óbvias: o motivo desta vaquinha diz muito sobre o nosso sistema de saúde e sua lógica de funcionamento e sobre a realidade de tantas pessoas trans que dele dependem. Não é a toa que esta não é a primeira e, infelizmente, não será a última vaquinha articulada para financiar uma cirurgia que deveria ser um direito assegurado a todo homem trans. De forma gratuita, segura, pelo SUS e dentro de prazos plausíveis. Porque a longa espera leva a uma angústia que, essa sim, pode gerar uma série de transtornos a quem espera sem nenhuma perspectiva e sem nenhuma garantia do Estado.
Não digo que acompanhei todo o processo do Bruno porque ele, sempre que tenta encontrar uma origem para isso tudo, busca na infância as primeiras lembranças de desconformidade com o gênero que lhe era imposto. Mas, posso dizer que fui parte do processo de descoberta da transexualidade já dita, assim, neste termo, como uma possibilidade de vivência do corpo e da sexualidade que até então lhe era desconhecida.
Foi no ENUDS (Encontro Nacional Universitário de Diversidade Sexual) de 2009, em BH, que o descobriram, na verdade. Pois questionaram sua identidade de gênero e ele se deu conta de que aquele questionamento dizia muito e viria a dizer mais ainda sobre a sua vida e sobre as suas vivências.
Em 2010, começa a luta no SUS. Bruno é de uma periferia do Rio de Janeiro, trabalha como autônomo, não tem plano de saúde e pagar pelo tratamento e por todos os exames e procedimentos não entrou nem em cogitação. Esperou pacientemente o laudo do psiquiatra, a liberação do tratamento hormonal e os vários pareceres que o deixavam “apto” para a cirurgia de mastectomia. A liberação para a cirurgia veio somente no ano passado, quatro anos após a sua entrada no Hospital Estadual Pedro Ernesto/UERJ. Essa espera casada com o processo que se deu pós-liberação foi motivo de muita angústia e, em alguns momentos, desespero. Isso de não saber o que vai acontecer e quando dá um nó na cabeça de quem espera com tanto desejo e vontade.
Os exames feitos no ano passado já perderam a validade e foram solicitados outros, mas sem a garantia de que esses também não vão vencer antes da tão sonhada cirurgia. Eles alegam que não tem leito, que não tem médico (porque são poucos os que fazem esse tipo de cirurgia) e que, por isso, não tem previsão da cirurgia de fato sair. Foi essa falta de perspectiva, muito mais do que uma descrença no nosso SUS, que o levou a procurar hospitais e cirurgiões particulares que realizavam a cirurgia. A média de preços varia entre R$ 6500,00 e R$ 7500,00. Na impossibilidade de arcar com os custos e entendendo que este é um problema coletivo, ele optou por criar essa vaquinha online. Qualquer contribuição vale.