
José Neto sempre viveu com pouco, mas o pouco que tinha, valorizava. Morava num barraco simples, de madeira, onde o vento entrava pelas frestas e a chuva fazia o chão virar lama. A mãe passava o dia inteiro lavando roupa pros outros, e o pai… vivia pelas ruas da cidade, tentando vender seus cordéis pra quem quisesse ouvir um verso ou pagar por um pedaço de poesia esquecida.
Apesar de tudo, José Neto carregava um sonho que parecia pequeno pra qualquer um, mas pra ele era enorme: cortar o cabelo em um salão de verdade.
Não por vaidade, mas porque queria se olhar no espelho e, por um momento, se sentir bem. Queria ver alguém digno de um sorriso, alguém que ainda acreditasse num amanhã diferente.
Mas o dinheiro nunca sobrava. Tudo o que entrava em casa era pra comida, quando dava.
Os amigos riam do cabelo bagunçado, das pontas queimadas de sol, do boné velho que ele usava pra disfarçar. Ele fingia não ligar, mas à noite, deitado no colchão fino, o pensamento apertava o peito: doía ser invisível.